by Roberto M.
Quando estamos ao ar livre, não há um momento sequer no qual invisíveis organismos vegetais não pousem sobre nós. Trata-se de grânulos de pólen, que estão sempre por aí, vagando pelo ar.
A gente não os vê porque são realmente minúsculos. Para termos uma ideia, seriam necessários trinta ou quarenta deles para que atingissem cerca de um milímetro.
Os grãos de pólen são tão diversos e numerosos como as plantas de onde provêm. São do tamanho de diminutas partículas de poeira, medindo apenas de 0,020 a 0,250 mm, e produzidos em número muito elevado.
É certo que, vagando por aí, ao sabor do vento, muitos se perdem e não atingem seu objetivo. Mas a natureza é pródiga.
Calcula-se que uma única plantinha, uma única erva de médio porte como o cânhamo, produza meio bilhão de grãozinhos de pólen durante sua curta vida. E quanto maior for a planta, maior a produção. As florestas de abetos da Suécia, por exemplo, produzem 75 mil toneladas de pólen a cada ano.
Mas o fato é que, provenientes de ervas ou de árvores, esse material, transportado pelo vento, atravessa florestas, oceanos, e acaba sempre repousando em algum lugar.
Cada grãozinho de pólen é semelhante a um cofrinho precioso delicadamente trabalhado em baixo relevo e extremamente miniaturizado.
Mas o que ele encerra em seu interior é o que o torna realmente importante.
Trata-se de uma longa e detalhada mensagem: “projeto completo de uma planta”. Ou seja, todas as instruções necessárias para formar um novo organismo vegetal.
Mas o que ele encerra em seu interior é o que o torna realmente importante.
Trata-se de uma longa e detalhada mensagem: “projeto completo de uma planta”. Ou seja, todas as instruções necessárias para formar um novo organismo vegetal.
HISTÓRICAS TESTEMUNHAS
O grão de pólen lembra um grãozinho de poeira, entretanto, ao analisá-lo de forma mais detalhada, é possível observar uma estrutura magnífica. Nele, há a presença de duas paredes, uma externa (exina) e uma mais interna (intina).
A exina pode apresentar-se de forma lisa ou possuir ornamentações (estruturas que parecem “enfeitar” o grão de pólen), e é possível encontrar também poros e outras aberturas.
Essa camada externa é composta por uma substância bastante resistente, que garante a proteção contra radiação, desidratação e organismos que podem causar danos ao pólen.
O grânulo de pólen é praticamente indestrutível.
Assim como a chamada “caixa preta” dos modernos aviões, não se abre por descuido ou acidentes. Seu invólucro é resistente a ácidos, a substâncias alcalinas e até a altas temperaturas.
Assim como a chamada “caixa preta” dos modernos aviões, não se abre por descuido ou acidentes. Seu invólucro é resistente a ácidos, a substâncias alcalinas e até a altas temperaturas.
Mesmo que o pólen tenha somente poucos dias de vida, a embalagem dele, o grânulo, pode permanecer intacto e reconhecível por centenas de milhares de anos.
Daí ser considerado um testemunho histórico da maior importância.
Se seu voo terminar num lago ou num pântano, logo irá incorporar-se ao sedimento lodoso do ambiente, onde, salvo da decomposição, comprovará, mais tarde, a existência nos arredores da planta de onde se desprendeu.
Se seu voo terminar num lago ou num pântano, logo irá incorporar-se ao sedimento lodoso do ambiente, onde, salvo da decomposição, comprovará, mais tarde, a existência nos arredores da planta de onde se desprendeu.
Desse modo, analisando os sedimentos lacustres, a ciência que estuda o pólen, a Palinologia, tem condições de reconstituir o estado da antiga vegetação deste ambiente.
Os pesquisadores obtêm amostras por sondagens, ou seja, enfiando no terreno um longo tubo, o qual, extraído e aberto fornece um longo “canudo” de terra.
Este canudo, uma vez fatiado, lavado de maneira apropriada e analisado, revela o diagrama polínico daquela localidade.
Destes diagramas são extraídas informações sobre a vegetação (quanto maior a presença de uma espécie vegetal, maior a porcentagem do pólen nos sedimentos), sobre o clima dominante na época, a chegada de plantas novas, eventuais desmatamentos, etc. Tudo minuciosamente “arquivado” em camadas de sedimentos.
O aspecto de um grão de pólen varia muito de uma espécie para outra. Por causa desse fato, essas estruturas são frequentemente utilizadas na identificação das espécies.
Elas podem ser usadas, inclusive, para identificar espécies que não mais existem no planeta, uma vez que, em razão de sua resistência, podem ser encontradas facilmente em registros fósseis. O estudo palinológico permite ainda uma datação bastante aproximada das mudanças ambientais, raramente obtidas com outros métodos.
Nestes últimos anos, inclusive, as pesquisas vêm colhendo numerosos dados resultantes das análises polínicas. Emerge assim um apanhado cada vez mais preciso e detalhado da evolução agrícola e ambiental do nosso planeta.
Ou seja: o pólen proveniente de plantas já mortas há séculos ou até milênios, tem ainda muita história pra contar.
Bibliografia: Revista Sítios e Jardins nº 42 – Por Sara Romahn
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