by Roberto M.
Lírica, do latim lyrĭcus, é um gênero literário no qual o autor
exprime os seus sentimentos e propõe-se a despertar sentimentos análogos ao
leitor ou ouvinte.
A poesia lírica expressa sentimentos de um eu-lírico, que não se
confunde com a pessoa do poeta.
Há, neste caso, a expressão da subjetividade íntima do eu-poético, de um sentimento amoroso ou de qualquer outro tipo de sentimento.
Há, neste caso, a expressão da subjetividade íntima do eu-poético, de um sentimento amoroso ou de qualquer outro tipo de sentimento.
Camões é o maior poeta lírico do Classicismo português. Os sonetos de Camões são a parte mais conhecida de sua lírica. O poema Amor é um fogo que arde sem se ver, de Luís de Camões, faz parte da lírica clássica do autor.
Este poema é um soneto, ou seja, tem uma forma fixa de composição poética. É
composto de duas estrofes de quatro versos (quartetos ou quadras) e duas
estrofes de três versos (tercetos).
Quanto à métrica, que é a medida dos versos que compõem o poema, os versos
são decassílabos (dez sílabas poéticas), notando-se a predominância dos
decassílabos heroicos, nos quais a sexta e a décima sílabas são sempre
tônicas.
Amor é um fogo que arde sem se ver
(Soneto nº 005)
Luiz Vaz de Camões
Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Neste poema, Camões procurou conceituar a natureza contraditória do amor. Ele
tenta, em vão, conceituar o Amor; mas só consegue demonstrar que qualquer
tentativa semelhante, ao final, levará ao ponto de partida.
O tratamento dado ao tema, no soneto, é visivelmente ligado ao sentimento
humano entre um homem e uma mulher, o amor romântico, seja ele correspondido ou
não.
Este soneto é uma definição poética do amor. Como se Camões quisesse definir
este sentimento indefinível e explicar o inexplicável, colocando imensos
contrastes para caracteriza-lo
O poeta buscou analisar o sentimento amoroso racionalmente, por meio de uma
operação de fundo intelectual, racional, valendo-se de raciocínios próximos da
lógica formal.
Para Camões, o Amor (com A maiúscula) é um tipo de ideal superior, perfeito e
único, pelo qual há o anseio de atingi-lo, mas como o amor é um sentimento vago,
imensurável, Camões acabou por concluir pela ineficácia de sua análise,
desembocando no paradoxo do último verso.
O aspecto material, sensível, “ferida que dói”, é oposto ao espiritual “e
não se sente”, como de resto pode-se observar ao longo de todo o soneto,
culminando com a indagação final, que traduz toda a perplexidade diante da total
impossibilidade de se compreender o próprio amor.
O sentir e o pensar são movimentos antagônicos: o sentir deseja e o pensar
limita, e, como o poeta não podia separar aquilo que sentia daquilo que pensava,
o resultado, na prática textual, só podia ser o acúmulo de contradições e
paradoxos.
Ao conceituar a natureza paradoxal do amor, o soneto ressalta em enunciados
antitéticos (ambíguos, antagônicos), mas que compõem um todo lógico, o caráter
paradoxal do sentimento amoroso. Mas, por vezes, tais contradições são
aparentes, pois, a segunda parte de cada verso funciona como complemento da
primeira parte, de modo a enfatizar a afirmação por meio da aproximação de
realidades distintas.
Por fim, podemos observar, no poema, uma sucessão de anáforas (uma figura de
linguagem caracterizada pela repetição de uma ou mais palavras no início de
versos, orações ou períodos), uma cadeia anafórica, através da reiteração do
verbo ser ("É") no início dos versos (do 2º ao 11º). Note-se, também,
que o soneto inicia-se e termina com a mesma palavra:
Amor ; o tal sentimento contraditório, que é o tema da
composição poética.
Inspirado em: Amor fogo que arde sem se ver – Passeiweb
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