by Telma M. e Roberto M.
Hoje, vou contar mais uma das histórias que colecionei, durante vários anos,
anotando as frases engraçadas, estranhas ou curiosas, ditas por pessoas de minha
convivência, principalmente familiares e amigos.
Era só falar coisas fora do contexto perto de mim que, se eu percebesse, eram
devidamente anotadas no meu famoso “Livro”.
Tudo o que narrarei aconteceu de verdade mas, como não gosto de citar os nomes verdadeiros dos personagens, vou contar a história como se fosse uma fábula de “João e Maria”.
Então vamos lá, aos fatos:
Naquela época, o sábado, na cidade de interior, tinha uma importância muito
especial.
As mocinhas começavam a se arrumar logo pela manhã. Afinal, era o dia das
paqueras na pracinha.
Quando tinha baile no Pindorama Clube, então, era um acontecimento social! As
meninas antecipavam os cuidados com a beleza para a sexta-feira.
Cabelos enrolados com “bobs” o dia todo, possibilitava que aqueles mais
rebeldes se tornassem maleáveis para o que viria no dia seguinte. Ainda não
havia chegado por lá essa maravilha que é a “chapinha”, ou “prancha” como muitas
meninas preferem chamar.
As moças tinham que fazer “touca”, uma espécie de rodamoinho nos cabelos.
Enrolava-se todo o cabelo molhado para o mesmo lado em torno da cabeça, de forma
que se formava uma touca, que era presa com grampos. Após algumas horas, já
secos, os cabelos eram soltos e novamente enrolados para o lado contrário. Assim
ficavam presos até a noite, quando, então eram soltos, não antes da mocinha ter
entrado em seu melhor vestido e passado algumas horas na frente do espelho
fazendo sua maquiagem.
Muitas meninas mandavam costurar um vestido especial para aquele dia, pois um
baile era uma festa de gala.
Naquele tempo, ainda havia escrúpulos, não era tão fácil beijar uma garota
como é agora.
Era preciso usar as palavras certas, era preciso “pedir em namoro” antes,
“segurar na mão” por longos períodos (que podiam ser meses) e só então era
permitido uma tentativa de beijo. E não era um beijo de língua, não! Era um
beijinho roubado às pressas, muitas vezes nem percebido em toda sua intensidade,
porque sempre havia o medo de ser visto.
O beijo roubado sempre deixava aquela sensação gostosa de aventura e uma
vontade de repetir no sábado seguinte.
Bem, todo esse preâmbulo se faz necessário para explicar o clima reinante no
dia em que aconteceu a história que vou contar.
Era justamente um sábado. O dia era 25 de Fevereiro de 1984. Iria ter
baile na cidade de Pindorama. O último baile de gala antes das folias do
carnaval que começariam na semana seguinte.
Imaginem a ansiedade e os preparativos. Principalmente dos casais
apaixonados….
João e Maria era um desses casais apaixonados.
Só que, João e Maria, formavam um casal de ex-namorados, separados já há
alguns longos meses.
Eles haviam namorado por 2 anos seguidos, mas estavam separados por motivos
que serão contados em outra ocasião.
O fato é que se amavam de verdade e a expectativa de um reencontro, no baile,
inflamava ambos os corações.
Mas, o que importa é que, realmente, naquela noite de sábado, 25 de fevereiro
de 1984, o casal João e Maria se reencontrou no baile.
Ele a convidou para dançar.
Havia um clima de romance envolvendo os dois apaixonados, que dançavam
agarradinhos, alheios ao mundo.
O rapaz, nascido e criado no sítio, muito inibido, muito sem jeito.
A menina toda trêmula, com as mãos geladas, esperava que ele dissesse o que
ela queria ouvir há tanto tempo.
Houve um momento de mudez, carregado de emoção, em que os olhares se
encontraram e pareciam penetrar na alma um do outro.
Ela pensou: “É agora, ele vai me beijar”.
Chegou até a cerrar ligeiramente os olhos, prevendo a delícia suprema.
Mas, reabriu-os violentamente ao ouvir a frase cataclismática do rapaz:
-
Sabe Maria, a minha égua vai ter nenê….
Era verdade! Ele tinha mesmo uma égua no sítio do avô.
Muitas pessoas têm cães, outras têm gatos, tem gente que prefere pássaros.
João tinha uma égua prenha.
Mas será que era essa a hora de dar a notícia da gravidez da equina?
O que importa é que, no final, tudo deu certo e a história teve um final
feliz.
Eles estão casados, hoje.
Vivem felizes como é possível ser feliz e, às vezes, um pouquinho tristes
como é normal também. Afinal são humanos, e os humanos sempre são um pouquinho
felizes e um pouquinho tristes, mas é muito bom ser humano e viver essas emoções
todas que temos à nossa disposição.
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E afinal, João e Maria, a égua teve nenê?
ResponderExcluirAdorei a história.
Nelsina Ventura
Sim, nasceu uma linda potrinha castanha. João e Maria vivem uma história bonita e estão casados desde junho de 1987.
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