by Telma M.
Fulana morreu e no velório, um estranho acontecimento se deu. Fulana jazia
branca e imóvel sobre o seu derradeiro descanso quando um som se ouviu.
Entre o cheiro de morte, as flores murchas e as lágrimas esparsas, uma música
suave começou. As pessoas se olhavam incrédulas. Não é costume ouvir-se música
popular em velórios.
Quem se atreve a ligar o som? De onde ele vem? Que falta de respeito!
Poucas pessoas ousam ser tão desprendidas e autênticas, como o filho de
fulana. Era ele o autor de tamanha ousadia.
Mas a história tem explicação.
Anos atrás Fulana disse, em uma conversa informal com o filho, que gostaria
que em seu velório houvesse música popular tocando ao fundo.
Escolheu até os artistas, embora consciente de que essa seria uma atitude
incomum, uma vez que músicas não combinam com a tristeza da morte. Colocar
música num velório poderia ser considerado um absurdo e uma afronta aos
religiosos presentes.
Sendo assim liberou o filho desse pedido estapafúrdio.
- “Não precisa atender meu último desejo, mas que eu gostaria, eu gostaria de
ter música em meu velório”, disse Fulana dos Anzóis Pereira ao pensativo filho.
Fulana sempre pensara que últimos pedidos são uma forma de castigar os
familiares. Depois que a pessoa morre deixa um problemão, na mão de quem fica,
para atender ao tal último desejo, que nem sempre é fácil de cumprir.
Certa vez Fulana tivera a oportunidade de presenciar a angústia de uma esposa
que perdeu o marido num acidente aéreo. Ele vivia dizendo que, quando morresse, queria ser enterrado em sua cidade natal. Acontece que o camarada nascera numa
pequena cidade do interior de São Paulo, Pindorama, e morreu enquanto fazia uma
viagem internacional. Quando o avião atravessava o oceano Pacífico o motor
falhou e caiu no mar. Nenhum dos corpos dos viajantes foi encontrado. Os corpos
ficaram, para sempre sepultados no meio do oceano, a milhares de quilômetros de
seus lares. O marido morto não pode ser sepultado em sua cidade natal. A esposa
viveu o restante de seus dias amargurada por não ter podido atender ao último
pedido do marido.
Por esse motivo, Fulana entendia perfeitamente a impossibilidade de se
prometer últimos pedidos. Mesmo assim os expressou, “vai que" existisse a possibilidade de seus desejos serem atendidos...
E foi assim que em seu velório, o filho providenciou música popular como
trilha sonora. Foi esquisito, mas ficou bonito.
Afinal a morte é inexorável, nós é que não nos conformamos com ela.
Quem sabe, se houvesse aceitação, a dor fosse mais tolerável?
E você, tem alguma mentira ou verdade para contar?
Conte-nos, quem sabe ela seja publicada aqui no Mentiras Veríssimas?
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