O que é crase. Como usar a crase corretamente.
Quais as regras de uso e emprego da crase.
Quando é permitido usar a crase. Quando não podemos utilizar a crase. Quando é obrigatório o uso da crase. O uso optativo da crase. Casos especiais de crase.
Primeiramente, devemos dizer que crase não é o nome de um acento gráfico. O acento utilizado para identificar o fenômeno da crase é denominado “acento grave”.
Quais as regras de uso e emprego da crase.
Quando é permitido usar a crase. Quando não podemos utilizar a crase. Quando é obrigatório o uso da crase. O uso optativo da crase. Casos especiais de crase.
Primeiramente, devemos dizer que crase não é o nome de um acento gráfico. O acento utilizado para identificar o fenômeno da crase é denominado “acento grave”.
A palavra crase é de origem grega e significa fusão. Na nossa gramática dizemos que crase é a junção de duas vogais idênticas. Vamos tentar explicar, nesse artigo, as várias possibilidades de ocorrência ou não dessa contração de palavras.
LATO SENSU
Em um sentido mais amplo (sentido lato) podemos dizer que
crase é a fusão de duas vogais da mesma natureza, que estão lado a lado em uma
mesma palavra ou em palavras diferentes numa mesma expressão ou frase.
No Português falado é um fenômeno bastante corriqueiro.
Assim, quem diz “coperação”, em vez de
cooperação, está fazendo crase de dois oo.
Do mesmo modo, no Hino Nacional Brasileiro, ao cantar “Ó Pátria Amada,
Idolatrada” emitimos o último a de pátria juntamente com o
primeiro a de amada, o que configura uma crase de dois
aa.
STRICTO SENSU
Em um sentido mais estrito, chamamos de crase a fusão de
dois aa, que, na escrita, vem assinalada com um acento
grave.
De um modo geral, a crase ocorre quando existe a fusão da
preposição a com o artigo feminino a
(as), mas pode ocorrer, também, da fusão da preposição
a com a vogal a inicial de pronomes demonstrativos
como aquele, aquilo, etc.
Para entendemos melhor a crase, vamos começar falando sobre regência.
TERMO REGENTE E TERMO REGIDO
Em outro artigo falarei especificamente sobre regência verbal e
nominal, mas por enquanto, só para clarear as ideias, basta saber que:
Regência é a parte da gramática que trata das relações entre os termos da
frase, verificando como se estabelece a dependência entre eles.
Simplificada e basicamente falando, numa frase existe um termo que pede um
complemento e, obviamente, o tal complemento.
O termo que pede o complemento é conhecido como regente. Seu
complemento é conhecido como termo regido.
REGRA GERAL DA CRASE
Como dito acima, normalmente, a crase é resultado da fusão da
preposição a com o artigo definido feminino a
(as).
Portanto, para que ela ocorra são necessárias duas condições:
- que o termo regente exija a preposição a;
- que o termo regido aceite o artigo definido feminino a (as).
Como consequência dessa regra geral, podemos observar a ocorrência de três
casos:
1 – O termo regente exige a preposição, o termo regido aceita o artigo e, portanto, acontece a crase.
Exemplo: Eu vou à cidade.
O verbo ir (termo regente) exige a preposição a (quem vai, vai
a algum lugar).
Cidade (termo regido, complemento do verbo ir) é um substantivo feminino que
aceita o artigo a.
Existe a fusão dos dois aa e, portanto, há a crase.
2 – O termo regente não exige a preposição a, o termo regido aceita o artigo a (as) e, portanto, não acontece a crase.
Exemplo: Eu conheço a cidade.
O verbo conhecer (termo regente) não exige a preposição a (é um verbo
transitivo direto: quem conhece, conhece alguma coisa).
O termo Cidade, como vimos acima, aceita o artigo a.
Existe somente um a e, portanto, não há a crase.
3 – O termo regente exige a preposição a, o termo regido não aceita o artigo a (as) e, portanto, não acontece a crase.
Exemplo: Eu vou a Itu.
O verbo ir exige a preposição a;
O termo regido (Itu) não aceita o artigo a.
Existe somente um a e, portanto, não acontece crase.
QUANDO NÃO ACONTECE A CRASE (CASOS PROIBITIVOS)
Por tudo que foi explicado acima, é óbvio, que nunca vai ocorrer crase antes
de palavras (termo regido) incompatíveis com o artigo a (as). Vejamos:
1 – Antes de palavras masculinas
Nunca ocorrerá crase porque antes de masculino é impossível ocorrer o artigo
definido feminino a (as).
Exemplo: Chegou a tempo.
Tempo é uma palavra masculina, portanto nunca terá um artigo a.
Nesse caso, o a é apenas uma preposição exigida pelo termo regente (chegou).
2 – Antes de Infinitivos.
Jamais ocorrerá crase antes de infinitivos. O artigo a (as) nunca aparecerá
antes de verbo algum.
Exemplo: Estou decidido a fazer o exame.
Fazer é um infinitivo, portanto nunca terá um artigo.
Nesse caso, o a é apenas uma preposição exigida pelo termo regente
(decidido).
3 – Antes de Pronomes de Tratamento.
Em princípio, os pronomes de tratamento não admitem artigo, portanto, antes
deles não ocorre a crase.
Exemplo: Falei a V. S.ª tudo o que precisava.
V.S.ª é um pronome de tratamento que não admite artigo.
Neste caso, o a é apenas uma preposição exigida pelo termo regente (falei).
Observação: São exceções os pronomes de tratamento Senhora,
Senhorita e Dona que admitem o artigo a. Portanto ocorre a crase antes deles.
Exemplo: Falei à Senhorita tudo o que precisava.
Senhorita admite o artigo a.
Falei exige a preposição a.
Nesse caso, existem os dois aa, ocorrendo a crase.
4 – Antes de Pronomes Indefinidos e pronomes em geral.
Os pronomes indefinidos nunca admitem artigo, consequentemente, antes deles
não ocorre crase.
A maioria dos pronomes também não admite artigo e, portanto, antes deles não
ocorre crase.
Exemplo 1: Falei a toda torcida.
Toda é pronome indefinido e não admite artigo. Portanto existe apenas a
preposição a (exigida pelo termo regente falei) e não ocorre crase.
Exemplo 2: Falei a ela.
Ela é pronome pessoal que não admite artigo. Portanto, não existirá crase.
Observação: Existem alguns pronomes que admitem o
artigo. É lógico que, nestes casos, ocorrerá a crase.
Exemplo: Falei à mesma mulher.
Mesma é pronome demonstrativo que admite o artigo a.
Falei exige a preposição a.
Portanto existem os dois aa, ocorrendo a crase.
Dica:Para sabermos se o pronome admite ou não o artigo, basta substituirmos o feminino pelo seu correspondente masculino e verificarmos se "cabe" o ao. Se sim, é porque o pronome admite o artigo.
No exemplo acima, se fizéssemos essa substituição, teríamos: Falei ao mesmo homem ( e não, Falei a mesmo homem), portanto cabe o artigo.
5 – A (sem o s de plural) antes de um feminino plural.
Nunca ocorre crase quando um a (sem o s de plural) vem antes de um feminino
plural. Esse a só pode ser uma preposição, e nunca uma fusão de uma preposição
com o artigo. Se o artigo existisse, deveria ocorrer no plural.
Exemplo: Os buracos são devidos a chuvas torrenciais.
Observação: Entretanto, caso ocorra o s, deverá ocorrer a crase, pois nesse
caso, será óbvia a existência do artigo plural.
Exemplo: Os buracos são devidos às chuvas torrenciais.
6 – Expressões formadas de palavras repetidas.
Nunca ocorre crase nas expressões formadas de palavras repetidas.
Exemplo: Fiquei frente a frente.
Em tais expressões não existe o artigo, ocorrendo somente a preposição.
É fácil demonstrar isso. Basta verificarmos numa expressão análoga masculina
que não cabe o artigo masculino o.
Exemplo: Andei passo a passo (e não, Andei passo ao passo).
QUANDO A CRASE É OBRIGATÓRIA
Há casos em que sempre ocorrerá a crase:
1 – Na indicação do número de horas.
Sempre ocorre crase na indicação do número de horas, desde que a expressão
seja feminina.
Exemplo: Cheguei às nove horas.
Nessas expressões, sempre há o encontro da preposição a com o artigo a. Isso
facilmente se verifica, pois se a hora for masculina teremos a combinação ao.
Exemplo: Cheguei ao meio-dia.
2 – Na expressão à moda de.
Sempre ocorre crase na expressão à moda de, mesmo que a palavra moda venha
oculta na frase.
Exemplo 1: Vesti-me à moda de um mineiro.
Exemplo 2: Comi uma comida à mineira. (nesse caso a palavra feminina moda
está oculta)
3 – Nas Expressões Adverbiais Femininas.
Nem sempre, nas expressões adverbiais femininas, haveria razões suficientes
para a ocorrência de crase.
Entretanto, por razões de uniformização, é comum seguir-se a seguinte regra:
- Sempre ocorre indicação de crase nas expressões adverbiais femininas.
Exemplos:
Jantou à noite (expressão adverbial feminina de tempo).
Ficou à esquerda (expressão adverbial feminina de lugar).
4 – Nas locuções conjuntivas (equivalentes a conjunções)
Nas locuções conjuntivas (equivalentes a conjunções), formadas por expressões
femininas, o acento grave, indicador de crase, sempre será usado.
Exemplo: À medida que cai a chuva, a enchente aumenta.
QUANDO A CRASE É OPTATIVA
Há casos em que o uso da crase é opcional:
1 – Antes de nomes próprios de pessoas femininos.
Antes de nomes próprios femininos, a crase é optativa. Pode ou não ocorrer.
Isso se deve ao fato de que, antes dessa classe de palavra, o uso do artigo é
optativo, pode-se ou não usá-lo.
Veja nesse exemplo, como podemos ou não usar o artigo antes desses nomes
próprios:
Natalia está falando.
ou
A Natália está falando.
Portanto, quando acontece a preposição antes desses nomes, pode ou não
ocorrer a crase, dependendo se queremos ou não utilizar o artigo.
Exemplos:
Falei a Natalia. (somente a preposição, sem o artigo).
Falei à Natália (preposição + artigo = crase).
2 – Antes de Pronomes Possessivos femininos.
Da mesma forma que nos nomes próprios femininos, nos pronomes possessivos
femininos (minha, tua, sua, nossa, vossa) o uso do artigo é optativo.
Exemplo: Minha mãe é inteligente ou A minha mãe é inteligente.
Sendo assim, antes dos pronomes possessivos femininos, quando ocorrer a
preposição, o uso da crase é optativo. Depende da utilização ou não do artigo.
Exemplos:
Obedeço a minha mãe (somente a preposição, sem o artigo).
Obedeço à minha mãe (preposição + artigo = crase).
CASOS ESPECIAIS DE CRASE
1 – Palavra casa no sentido de lar.
Com a palavra casa, no sentido de lar, habitação, há duas possibilidades:
- Se a palavra casa for um termo indeterminado, não ocorrerá a crase.
Exemplo: Terminado o jogo, voltaram a casa.
Nesse sentido, antes da palavra casa só tem a preposição e não o artigo.
Observe quando é utilizado um regente que exige outra preposição:
Exemplo:Jantei em casa
(e não, Jantei na casa.).
- Se a palavra casa for um termo determinado, ocorrerá a crase.
Exemplo: Voltaram à casa do carpinteiro.
Nesse caso ocorre a preposição e o artigo.
Observe no exemplo com outra
preposição:
Exemplo:Jantei na casa do carpinteiro (e não, Jantei em casa do carpinteiro).
2 – Palavra terra no sentido de chão firme.
Com a palavra terra, no sentido de chão firme, em oposição a mar, rio ou
água, há duas possibilidades:
- Se a palavra terra for um termo indeterminado, não ocorrerá a crase.
Exemplo: O barco chegou a terra.
Nesse sentido, só ocorre a preposição e não o artigo.
Observe no exemplo com
outra preposição: Viajei por terra (e não, Viajei pela terra).
- Se a palavra terra for um termo determinado, ocorrerá a crase.
Exemplo: Chegamos à terra do João.
Nesse caso, ocorre a preposição e o artigo.
Observe no exemplo com outra
preposição: Gosto da terra do João (e não, Gosto de terra do João).
3 – Palavra feminina depois da preposição até.
A preposição até pode ser empregada sozinha ou acompanhada da preposição a,
formando uma locução.
Em decorrência disso, se ela vier seguida de palavra feminina que admita
artigo, será indiferente o emprego da crase.
Exemplo 1: Irei até a cidade (preposição até não acompanhada da preposição a
+ artigo).
Exemplo 2: Irei até à cidade (preposição até acompanhada da preposição a +
artigo).
4 – Pronomes Demonstrativos iniciados por a depois da preposição a.
Sempre que o termo regente exigir a preposição a e vier seguido dos pronomes
demonstrativos aquele, aquela, aqueles, aquelas, aquilo, ocorrerá crase da
preposição a com o a que inicia tais pronomes.
Exemplo: A notícia nos remeteu àquele homem (fusão da preposição a exigida
por “remeteu” com o a inicial de aquele).
Observação Importante: Como esse tipo de crase não depende do artigo a, mas
sim de um simples a inicial, pode ocorrer antes de masculinos ou femininos.
5 – Crase antes do Pronome Relativo que.
A crase antes do pronome relativo que pode ocorrer ou não. Depende da
regência.
Para descobrir se existe crase ou não, usamos um artifício:
- substitui-se o termo antecedente ao que por um similar masculino;
- Se, nessa substituição aparecer ao antes do que, haverá a crase, pois, se
no masculino existe o artigo o, no feminino também haverá o artigo a.
- Se, nessa substituição o a não se alterar, não haverá a crase, pois se
trata de uma simples preposição, o artigo não existe.
Exemplo 1:
Tive uma ideia parecida à dele.
Ocorreu a crase, pois se substituirmos ideia por pensamento (masculino) a
frase fica assim:
Tive um pensamento parecido ao dele.
Exemplo 2:
A partida a que assisti teve dois gols.
Não ocorreu a crase, pois se substituirmos partida por jogo (masculino) a
frase fica assim:
O jogo a que assisti teve dois gols.
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