Macunaíma é a obra-prima de Mário
de Andrade, provavelmente, a mais importante realização da primeira
fase do Modernismo.
Segundo definição do próprio autor, “é um emaranhado de coisas peculiares, dilúvio de brasileirismos de toda casta”. É uma obra de caráter coletivo, agrupando elementos misturados de três raças conflitantes e desencontradas: a europeia, a ameríndia e a negra.
Segundo definição do próprio autor, “é um emaranhado de coisas peculiares, dilúvio de brasileirismos de toda casta”. É uma obra de caráter coletivo, agrupando elementos misturados de três raças conflitantes e desencontradas: a europeia, a ameríndia e a negra.
Representa não só o resultado de pesquisas de Mário como poeta, prosador, músico e folclorista, mas também a plena realização do projeto nacionalista dos escritores de sua geração.
À semelhança de um verdadeiro rapsodo (nome dos antigos
poetas gregos ambulantes, que iam de cidade em cidade recitando versos alheios e
cristalizando toda uma tradição oral), percorreu o país e reuniu estudos sobre
mitologia indígena, folclore nacional, costumes e língua cotidiana dos
brasileiros e, em uma semana do mês de dezembro de 1926, redigiu a primeira
versão da obra que, dois anos depois, seria editada após mais quatro redações.
CARACTERÍSTICAS DA OBRA
O livro Macunaíma escrito por Mário de Andrade é uma obra de
difícil classificação. O próprio autor, ao tentar classificar sua obra quanto ao
gênero sentiu dificuldades. São tantas as características misturadas em todos os
aspectos que dizer se é romance, epopeia, crônica ou qualquer outra coisa fica
meio complicado.
O crítico literário Alfredo Bosi observa pelo menos três estilos mesclados
dentro da narrativa:
- Um estilo de lenda, épico-lírico, solene, ao reforçar o caráter histórico
de um povo, na criação de um herói identificado com a nação e ao mesmo tempo
dando lhe uma origem mítica.
- Um estilo de crônica, cômico, despojado, ao retratar o cotidiano de um
herói que tem, ao mesmo tempo, um aspecto contraditório de anti-herói.
- Um estilo de paródia, de imitação de estilos já tradicionais.
Com tudo isso, o autor soube trabalhar os diversos níveis de consciência e de
comunicação, o que justifica o gênero Rapsódia, com o qual se costuma
rotular a obra.
A linguagem adotada não foge à estrutura da rapsódia. Utilizando-se de
provérbios e frases feitas, Mário de Andrade reforça ainda mais a ideia de
lenda, de folclore, de coletivo.
Com o fim de registrar o modo brasileiro de falar, criou uma língua escrita
muito própria. Há um coquetel do falar do índio, do negro, do português, do
gaucho, do nordestino e de muitos outros falares.
PERSONAGENS
Macunaíma: personagem central da história. É um herói contraditório,
uma vez que não tem nenhum caráter. Independente disso é querido por todos os
que o cercam. Seu físico remete a um apanhado geral da população brasileira. O
herói nasce índio-negro e, por magia, torna-se loiro de olhos azuis. As
incontáveis transformações do herói revelam não só o universo mágico, mítico,
lendário da obra, mas, confirma o caráter eternamente mutante do herói. É
criança, príncipe lindo, homem, com rosto de “piá”, vira francesa para enganar o
inimigo, vira pedacinho de torresmo, ressuscita com a magia de Maanape e por aí
continua se transformando até cansar da vida e virar Ursa Maior.
Maanape e Jiguê: respectivamente, irmão “já velhinho” e irmão “na
força do homem”. Ambos acompanham Macunaíma na busca pela Muiraquitã e morrem (transformam-se na cabeça
esquerda de um pássaro) sem retornar com ele para o Amazonas.
Sofará e Iriqui: companheiras de Jiguê que “brincam” com Macunaíma no
mato, reforçando seu caráter muitas vezes traiçoeiro.
Mãe: Índia tapanhumas que é morta por Macunaíma numa trapaça de
Anhangá.
Ci: mãe do mato-virgem, imperatriz da tribo de mulheres guerreiras, as
Icamiabas. Será a companheira inesquecível de Macunaíma e, ao se transformar em
estrela, lhe deixará a muiraquitã, amuleto que, quando
perdido, desencadeia a demanda em que o herói se envolve.
Icamiabas: Índias guerreiras, súditas de Ci e de seu agora eterno
companheiro, Macunaíma. É a elas (analfabetas) que Macunaíma escreve uma carta
de São Paulo, pedindo dinheiro.
Venceslau Pietro Pietra: Representante do imigrante que faz fortuna em
São Paulo. Na verdade ele é o terrível inimigo de Macunaíma, o gigante canibal
Piaimã. Pela disputa pela pedra, os dois passarão todo o tempo criando
armadilhas um para o outro. No fim, Piaimã é derrotado, morrendo na armadilha
preparada por Macunaíma.
Outros personagens: Mais uma infinidade de criaturas mágicas ou
históricas aparece com maior ou menor destaque, às vezes apenas citadas, como é
o caso de Sumé (São Tomè) que, na sua passagem pelo Brasil, teria deixado a
marca de seu pezão.
ENREDO
Macunaíma nasce no fundo do mato-virgem, parido por uma índia tapanhumas
virgem, filho do medo da noite. O seu nascimento é narrado num tom lendário,
atribuindo-lhe a grandeza digna de um herói.
A criança Macunaíma, porém, já vai revelando seu perfil.
De início, passa mais de seis anos sem falar. Quando o incitam, apenas
murmura “Ai que preguiça!”, mas, para ganhar vintém, acaba se mexendo. De resto,
gostava mesmo era de fazer gracinhas para as índias da tribo.
Um dia, foi levado por Sofará, a companheira de seu irmão Jiguê, para passear
no mato. Lá, Macunaíma se transforma num príncipe lindo e os dois “brincam”
exaustivamente. No dia seguinte, a aventura se repete. Jiguê acaba descobrindo a
traição e devolve a moça para sua tribo. Mais tarde, Jiguê arruma outra
companheira, Iriqui, que também acabará indo para o mato “brincar” com
Macunaíma.
Tempos depois, a mãe irritada com o comportamento de Macunaíma, deixa-o
sozinho na floresta. Tentando encontrar o caminho de volta, engana o traiçoeiro
Curupira e, contando suas aventuras à cotia, é transformado, como premio por sua
esperteza, em homem. Porém, a mágica responsável pela transformação não atinge a
cabeça, que continua de criança.
Enganado por Anhangá (diabo), Macunaíma mata a própria mãe, pensando ser uma
viada. Abatido, resolve se embrenhar pela mata em companhia de Maanape e Jiguê.
Nessa jornada encontram Ci, a mãe do Mato. Com a ajuda dos irmãos, Macunaíma
consegue “brincar” com Ci e torna-se o Imperador do mato-virgem. O casal
“brincará” tanto que Ci terá um filho prematuro depois de seis meses.
Ci amamenta a criança apenas com um peito, pois o outro é seco. A Cobra
Preta, porém, chupa o seio bom, envenenando-o. A criança, ao ser amamentada,
morre e, depois de ser enterrada, vira a planta de guaraná.
Ci, consternada, resolve deixar a terra e se transforma na estrela Beta da
constelação Centauro. Antes de partir entrega, como lembrança, a pedra Muiraquitã, para Macunaíma.
O herói perde a pedra, mas fica sabendo, pelo pássaro uirapuru, que ela foi
parar nas mãos de Venceslau Pietro Pietra, comerciante peruano e colecionador de
pedras que mora em São Paulo.
Macunaíma, junto com seus dois irmãos, resolve partir para São Paulo para
recuperar o amuleto. No caminho, cansados pela caminhada, resolvem tomar banho
em uma lagoa que, sem eles saberem, tinha uma água mágica. Era a água que
brotara da marca deixada pelo pezão de Sumé (São Tomé).
Macunaíma entrou primeiro. Ao sair da lagoa, ele, que era preto retinto,
tornou-se loiro de olho azul.
Jiguê, em seguida, só consegue ficar da cor do bronze, pois a água já estava
muito escura devido à negrura do herói que havia ficado nela.
Quando Maanape tenta se lavar, quase não há mais água, pois Jiguê havia
transbordado quase tudo. O irmão mais velho só consegue molhar as palmas das
mãos e a sola dos pés que ficam vermelhas, mas ele continua preto retinto.
Já em São Paulo, Macunaíma, deslumbrado com as novidades e os encantos da
civilização, começa a planejar a reconquista da muiraquitã. Para isso terá de
enfrentar o colecionador que, na verdade, é o terrível Piaimã, gigante comedor
de gente.
Para se aproximar do gigante, o herói decide se transformar em francesa.
Entretanto, Piaimã se encanta com a francesinha e quer “brincar” com ela.
Macunaíma consegue fugir.
Como vingança, o herói vai até um terreiro de macumba no Rio de Janeiro e, de
lá, com a ajuda de Exu, dá uma surra no Piaimã e só não o mata porque fica com
preguiça.
O gigante passará muito tempo se recuperando. Quando enfim isso acontece,
organiza uma festa para os “amigos” onde fará uma “macarronada antropofágica”
com molho de carne humana.
Quando o herói chega, é convidado a se sentar num balanço colocado sobre o
tacho do macarrão. Desconfiado, Macunaíma diz que não sabe balançar e pede para
que o gigante o ensine.
Piaimã cai na armadilha e senta-se no balanço. Macunaíma empurra o balanço
cada vez com mais força e o gigante acaba por ser atingido pelo espeto que havia
sido preparado para atingir Macunaíma.
O gigante cai no tacho fervente e morre.
Macunaíma recupera a pedra e volta para o Amazonas, mas sem os irmãos, que
morrem transformados na cabeça esquerda do urubu-ruxama.
Doente, sozinho e sem índia para “brincar”, o herói desanimado resolve tomar
banho, atraído pelo canto da Uiara. É quase morto pelas piranhas e perde a pedra
novamente.
Cansado e triste, desiste da vida e transforma-se na Ursa Maior.
Tudo ficou deserto. A tribo Tapanhumas acabou.
Um homem, que um dia apareceu por lá, encontrou um papagaio que lhe contou
toda a história de Macunaíma. Esse homem é o próprio narrador.
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Macunaíma é a personificação da identidade brasileira.
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