by Telma M.
Hoje vamos falar de uma boneca, a boneca Maria Rita, fruto da criatividade
artística da autora, que no dia a dia dos seus artesanatos,
consegue dar vida, não só à Maria Rita, mas a muitas outras Marias de pano, de todas raças.
Maria Rita era uma criaturinha fofa. Seus longos cabelos vermelhos com alguns
fios alaranjados não deixavam dúvidas sobre sua natureza contestadora, mas isso
não significa que ela fosse agressiva ou encrenqueira.
Não, isso não. Ela tinha um jeitinho muito doce e angelical quando se
comunicava com as pessoas.
Uma descrição rápida da Maria Rita: Cabelos longos e vivamente tingidos de
vermelho com nuances alaranjadas; pele negra como uma noite sem luar; pés
grandes e esborrachados; ancas avantajadas; lábios rubros como tomates maduros;
olhos azuis como céu em uma tarde de verão.
Se bem que, esses olhos azuis devam ser resultado de lentes de contato, pois
não se tem notícia de que algum de seus parentes afrodescendentes tenha nascido
com olhos tão azuis como os dela.
Usava roupas muito coloridas, mesmo que, nem sempre houvesse harmonia entre
as diferentes peças, pois seu lema era usufruir plenamente das cores, “presentes
de Deus para alegrar a vida”.
Maria Rita nasceu numa tarde, em meados de setembro, no ano de 2012, num
apartamento situado na Vila Clementino.
Já foi nascendo toda atabalhoada, dois dias antes da data prevista.
Foi nascer e, no momento seguinte, já estava aprontando das suas.
Não é que a danada subiu numa laranjeira.
A mãe, aos brados, dizia: “desça daí criatura”, mas ela não obedeceu.
E adivinhem só? Ela caiu.
Isso mesmo, lá no galho mais alto que havia, a danadinha espetou o pé num
daqueles espinhos enormes que as laranjeiras têm e perdeu o equilíbrio.
Despencou de uma altura de três metros e meio, veio caindo como se fosse uma
laranja podre, se esfolando em todos os espinhos existentes abaixo dela.
Quando chegou ao solo ouviu-se um baque surdo1 e depois o
silêncio.
A mãe ficou desesperada, coitada. Foi uma correria só.
Resumindo a sequência de acontecimentos: Maria Rita foi levada ao pronto
socorro de bonecas, de onde foi encaminhada para a UTI.
Lá permaneceu durante dez dias sendo descosturada, recosturada, consertada,
recheada, marcada e remarcada por uma equipe altamente especializada em
acidentes desse tipo.
No final dos dez dias, Maria Rita voltou ao convívio familiar totalmente
remodelada.
Ela parece ter aprendido a lição, mas isso nunca se saberá com certeza, pois
Maria Rita é uma boneca de pano que nasceu cheia de vida e com muitas peraltices
ainda a serem experimentadas.
Quem sabe quantas peraltices mais, ela e suas irmãs, as outras Marias, ainda
vão aprontar?
Dizem por aí que Maria Rita tem um primo tão peralta quanto ela chamado José.
Ele, por enquanto, vive lá pelas bandas de Serra Negra, mas pretende, em
breve, mudar-se para Poços de Caldas.
Se José e Maria Rita se encontrassem... Eu é que não queria estar por perto
para ver as faíscas que iriam surgir!
Nota:
1 Eu nunca entendi como um baque pode ser surdo.
Quando menina eu imaginava o baque como um velhinho corcunda com uma bengala
numa mão, e a outra mão em concha atrás da orelha, tentando entender o que lhe
diziam.
Ainda hoje tenho essas fantasias. Se baques podem ser surdos, então, será que
existem baques ouvintes?
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