by Roberto M.
Existe a palavra presidenta? Está certo falar presidenta? O que é o correto, presidente ou presidenta?
Para ilustrar essa questão, primeiramente, vou falar um pouco sobre o gênero dos substantivos.
Na língua portuguesa há dois gêneros: masculino e feminino. É masculino o substantivo que admite o artigo “o” (o ovo, o armário, o menino). É feminino o substantivo que admite o artigo “a” (a janela, a caneca, a menina).
Continuando nessa classificação de gênero dos substantivos, podemos dizer que existem substantivos biformes (admitem duas formas) e os uniformes (admitem uma única forma). (Vale salientar, que os adjetivos quando classificados quanto ao gênero, também podem ser uniformes ou biformes.)
Quando o substantivo indica nomes de seres vivos, geralmente o gênero da palavra está relacionado ao sexo do ser, havendo, portanto, duas formas, uma para o masculino e outra para o feminino. Exemplos: menino (palavra masculina para indicar pessoa do sexo masculino); menina (palavra feminina para indicar pessoa do sexo feminino); peru (palavra masculina para indicar animal do sexo masculino); perua (palavra feminina para indicar animal do sexo feminino).
Há, entretanto, nomes de seres vivos que possuem uma só forma para indicar o sexo masculino e o sexo feminino. Classificam-se em:
- Epicenos: são substantivos de um só gênero que indicam nomes de certos animais. Para especificar o sexo são utilizadas as palavras macho ou fêmea. Exemplo: a mosca macho; a mosca fêmea.
- Sobrecomuns: são substantivos de um só gênero que indicam tanto seres do sexo masculino como do sexo feminino. Exemplo: a criança, a criatura, o indivíduo (tanto faz ser homem ou mulher). A identificação do sexo é feita pelo contexto.
- Comuns de dois gêneros: são substantivos que possuem uma só forma para o masculino e o feminino, mas permitem a variação de gênero por meio de palavras modificadoras (artigos, adjetivos, pronomes). Exemplos: o colega (masculino); a colega (feminino); meu fã (masculino); minha fã (feminino).
Normalmente, as palavras terminadas em “nte” são “comuns de dois gêneros”. O que identifica o gênero é o artigo (ou pronome, ou adjetivo) que o precede (o gerente, a gerente, o pedinte, a pedinte). O sufixo é originário do latim, do particípio ativo (ou particípio presente), que no português atua como derivativo verbal. Os particípios ativos são usados como substantivos ou adjetivos. Exemplos: o particípio ativo do verbo atacar é atacante; de pedir é pedinte; o de cantar é cantante; o de existir é existente. Qual é o particípio ativo do verbo ser? O particípio ativo do verbo ser é ente. Aquele que é: o ente. Aquele que tem entidade.
Assim, quando queremos designar alguém com capacidade para exercer a ação que expressa um verbo, há que se adicionar à raiz verbal os sufixos ante, ente ou inte.
Portanto, a pessoa que preside deveria ser PRESIDENTE, independentemente do sexo que tenha; e não "presidenta" ou “presidento”.
Diz-se capela ardente, e não capela "ardenta"; se diz fogo “ardente” e não fogo “ardento” se diz estudante, e não "estudanta" ou “estudanto”; se diz adolescente, e não "adolescenta" ou “adolescento”; se diz paciente, e não "pacienta" ou “paciento”.
Entretanto, algumas palavras, pelo uso, acabam se impondo também na forma feminina, como presidenta, que está em todos os dicionários e que pode perfeitamente ser usada.
Portanto, tanto faz. As duas formas, linguisticamente, são corretas e plenamente aceitáveis.
A forma presidenta segue a tendência natural de ser um substantivo biforme, de aceitar a forma feminina com o uso da desinência “a”. Exemplo: menino e menina, garoto e garota.
Há palavras que aceitam as duas possibilidades, biformes ou uniformes comuns de dois gêneros. Exemplo: “o chefe e a chefe” ou “o chefe e a chefa”; “o parente e a parente” ou “o parente e a parenta”; “o presidente e a presidente” ou “o presidente e a presidenta”.
Portanto, essa dúvida acaba não sendo uma questão de certo ou errado, e sim, de preferência. Normalmente, aqui no Brasil, a preferência é pela forma “comum de dois” (a parente, o parente, a chefe, o chefe, a presidente, o presidente).
Nélida Piñon, por exemplo, sempre se apresentou como a primeira Presidente da Academia Brasileira de Letras.
É interessante observar também que formas como “Chefa” e “Parenta” ganharam no português do Brasil certo tom pejorativo, o que acontece também com a palavra presidenta, segundo o professor Adalberto L. Kaspary (autor de Português para Profissionais) que diz isso respaldado pela Academia das Ciências de Lisboa.
Inclusive, o próprio Kaspary aconselhou Ellen Gracie Northfleet, a primeira mulher a presidir o Supremo Tribunal Federal, a adotar a forma “presidente”, por ser adequada aos dois gêneros e mais formal.
Portanto, para concluir, podemos dizer: ambas as formas estão previstas em nossa gramática. A variação "presidenta" encontra-se registrada há muito tempo em vários dicionários. É mais um dos casos de exceção às regras da Língua portuguesa. Há regras muito claras para tudo em nossa Língua, o problema são as exceções.
Será que algum dia vai existir a variação “presidento” também?
É lógico que qualquer tipo de discriminação é inadmissível. É lógico que não se devem fazer diferenças entre sexos. Mas daí a fazer mudanças numa língua para satisfazer caprichos ou demonstrar poder de um determinado gênero de pessoas, vai uma distância muito grande.
Às vezes, existem discussões tão hipócritas que chegam, até, às raias do absurdo.
Espero sinceramente, que nenhum “ente” do sexo masculino venha a reivindicar, um dia, ser chamado de “o crianço”, “o artisto” ou “o criaturo”.
Da mesma forma, espero não presenciar alguma mulher querer ser chamada de “enta feminina” ou “a conjuja”.
Apesar das exceções serem possíveis, e de algum dia, todas essas palavras poderem estar em nossos dicionários, não gostaria de estar aqui para escutar alguém falando (como sugeriu Miriam Rita Moro da Universidade Federal do Paraná em um e-mail que recebi):
"A candidata a presidenta se comporta como uma adolescenta pouco pacienta que imagina ter virado eleganta para tentar ser nomeada representanta. Esperamos vê-la algum dia sorridenta numa capela ardenta, pois esta dirigenta política, dentre tantas outras suas atitudes barbarizantas, não tem o direito de violentar o pobre português, só para ficar contenta".
Aliás, seria cômica também a versão masculina da citação acima (imaginem só, se um homem presidente reivindicasse ser chamado de “presidento”):
“O candidato a presidento se comporta como um adolescento pouco paciento que imagina ter virado eleganto para tentar ser nomeado representanto. Esperamos vê-lo algum dia sorridento num fogo ardento, pois este dirigento político, dentre tantos outros seus métodos barbarizantos, não tem o direito de violentar nosso idioma, só para ficar contento”.
Bibliografia: Paschoalin & Spadoto - Gramática, Teoria e Exercícios - Editora FTD
Pois é, muito bem claro e explicado, mas queriam o que? Num país onde a educação vai às raias que vai, onde a população ainda elege representates como Sarney e outros, nada de diferente de se esperar.
ResponderExcluirCada povo tem o governo que merece, qual seja o seu genero, número ou grau.