Gabriel M.
De acordo com a InFOCUS (Interprofessional Fostering of Ophthalmic Care for Underserved Sectors), uma organização sem fins lucrativos norte-americana que atua com a saúde visual, estima-se que existam entre 800 milhões e 2.3 bilhões de pessoas com ametropia.
Ametropia é a designação genérica das doenças oculares que causam perda da nitidez da imagem na retina, como hipermetropia, miopia, astigmatismo e prebiopia.
Estudos mostram que os erros refrativos afetam aproximadamente 1/3 das pessoas com 40 anos ou mais nos EUA e na Europa Ocidental, e 1/5 dos australianos nessa mesma faixa etária.(*)
Estatísticas à parte, o objetivo é mostrar a importância de uma invenção usada para enxergar, mas que muitas vezes não é enxergada: os óculos.
A palavra óculos, surgiu do termo latino “ocularium”, que era usado para designar os orifícios feitos nos capacetes dos cavaleiros que lhes permitia enxergar.
Os primeiros registros do uso dos óculos datam de 500 a.C. e estão em textos do filósofo chinês Confúcio. Eles não tinham graus e eram usados como enfeite ou como forma de distinção social (usado como sinal de que a pessoa tinha algum tipo de doença mental).
Embora as propriedades ampliadoras de um pedaço de vidro curvo fossem conhecidas desde pelo menos 2.000 a. C., a fabricação de lentes só foi possível na Idade Média, a partir do século X d.C., com o aperfeiçoamento, feito pelo matemático árabe Al-Hazen, das leis fundamentais da óptica (parte da física que estuda os fenômenos relativos à luz e à visão).
Nessa época, dentro dos mosteiros, pedras preciosas, como o berilo e o quartzo, eram lapidadas e polidas a fim de produzir a chamada pedra-de-leitura, um tipo de lupa muito simples. Em 1267, o monge franciscano Roger Bacon levou uma dessas pedras-de-leitura ao papa Clemente IV e conseguiu demonstrar sua utilidade para aqueles que tinham alguma dificuldade de visão.
Em 1270, surgiu na Alemanha o primeiro par de lentes com graus envoltas em aros de ferro, unidas por rebites. Esses óculos primitivos não tinham hastes e eram ajustados apenas sobre o nariz.
Fabricados por artesãos habilidosos, os óculos eram artigos raros e caros, que simbolizavam erudição, cultura, nobreza e status. Era costume, inclusive, constarem dos inventários das famílias e serem deixados como herança. Aos poucos, com a fabricação em maior escala em indústrias alemãs e italianas, especialmente, o acessório se popularizou.
Inicialmente, os óculos eram usados apenas para leitura, melhorando a capacidade visual das pessoas com presbiopia e hipermetropia.
Em 1441, surgiram as primeiras lentes apropriadas às necessidades dos míopes.
A solução para pessoas com astigmatismo só apareceu em 1827.
Até o século XVI, os modelos disponíveis não tinham hastes fixas sobre as orelhas. Os óculos pince-nez eram ajustados somente sobre o nariz e os lorgnons traziam uma haste lateral onde o usuário o segurava para colocá-lo à frente dos olhos.
As hastes como conhecemos hoje só aparecem no século XVII.
Os precursores dos modelos que fazem sucesso hoje apareceram por volta de 1970: com aros grandes e coloridos transformaram-se nos modelos encontrados atualmente.
O fato é: muita gente não conseguiria nem ler este artigo, não fosse essa pequena grande invenção. Pode parecer trivial, mas no fundo é genial.
Mesmo quem não tem que corrigir nenhum defeito de visão, utiliza os óculos para se proteger do sol, para esconder algum defeito, ou simplesmente por estética, só por achar bonito.
Os óculos surgiram de uma observação brilhante há muito tempo e prometem ficar em seus postos, apoiados nas orelhas e no nariz, por muito mais tempo.
(*)THE EYE DISEASES PREVALENCE RESEARCH GROUP. The prevalence of refractive errors among adults in the United States, Western Europe and Australia. Archives of Ophthalmology, v.122, p.495-505, 2004.
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