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Urubaldino, um vegetariano infiltrado entre carniceiros. Afinal qual é a moral da história?

sexta-feira, 1 de outubro de 2010


by Telma Manolio
Urubaldino era um urubu que se pode considerar feio. Mas não simplesmente feio, ele era tremendamente feio, criminosamente feio.
Interessante notar, no entanto, que ele não se sentia infeliz por isso. Talvez porque sua mãe sempre tivera a delicadeza de lhe dizer que os feios não eram vazios e fúteis como os bonitos e que a beleza interior era muito mais importante do que a beleza exterior (“quem vê cara não vê coração”, dizia ela). Talvez porque seus companheiros fossem quase tão
feios quanto ele, com a diferença que todos os outros tinham penas no alto da cabeça e não tinham os pés azuis com unhas amarelas.
Além do mais Urubaldino tinha um olho de cada cor: um olho era vermelho sangue e o outro era cor de caramelo queimado. Existia ainda um outro problema: os olhos eram virados cada um para um lado, enquanto o olho esquerdo olhava para a direita, o olho direito olhava para a esquerda. Quando Urubaldino fixava o olhar num ponto qualquer, os outros urubus do bando não conseguiam descobrir para onde ele estava olhando.

Isso era particularmente desfavorável, uma vez que havia um código entre os elementos do bando que consistia em direcionar o olhar para a presa (que no caso deles era um animal morto, pois urubus comem animais mortos), e esse código orientava os companheiros para que todos pudessem atacar ao mesmo tempo, evitando que a presa fugisse. Se bem que nos anais da história nunca existiu um só registro de alguma presa ter fugido de um bando de urubus (afinal essa presa é um corpo morto em avançado estado de putrefação, sem nenhuma condição de fugir de quem quer que seja e é exatamente por isso que eles são considerados meio lixeiros do mundo, pois comem carne apodrecida de animais mortos, livrando o mundo do mau cheiro da carniça).

Pois não é que os companheiros de Urubaldino usaram o fato de ele não conseguir fixar o olhar sobre uma presa inerte para tentar excluí-lo do bando?
Mas não era só isso, existia também outro agravante muito “sui generis”: sempre que Urubaldino tentava fixar seu torto olhar para um alimento, não era para a carniça que ele olhava, mas sim para uma bela porção de vegetal.
Isso mesmo, Ubaldino era um urubu vegetariano, ele nunca se interessava por carniça, seu interesse era direcionado para alimentos verdes.
No meio de todo aquele lixo (Urubaldino e seu bando viviam no lixão de Cumbica, próximo do Aeroporto Internacional de Guarulhos), ele só conseguia visualizar alimentos verdes.
Em geral eram verduras que donas de casa jogavam fora por seus filhos só comerem hambúrguer com muita gordura (criando uma casta de colesterol ruim que ameaçava destruir a raça de humanos do planeta), mas vez ou outra Urubaldino tinha a rara felicidade de encontrar um pé de alface que teimava em brotar em meio à imundície, o que de certa forma dava um ar de vida ao lixão.

Acontece que seus companheiros odiavam comer verduras e às vezes, enquanto eles perdiam tempo atacando um pé de alface que Urubaldino tinha sinalizado como presa, outro bando, de urubus inimigos, já havia atacado um cachorro morto ou um cavalo abandonado cujo dono não se preocupou em dar um enterro decente ao seu animal de estimação.
Na realidade, Urubaldino nem precisaria morar nesse lixão, já que era vegetariano. Ele queria mesmo era se mudar para uma estância no interior, onde poderia se casar, ter seus filhotes vegetarianos e ser feliz para sempre. Ele vivia preocupado com a segurança. Os lixões das imediações dos aeroportos eram muito perigosos, atraiam muitas aves que volta e meia enroscavam nas turbinas dos aviões, provocando acidentes fatais (para as aves é claro). Sua família mesmo já havia perdido a conta de quantos filhos sucumbiram na luta contra as turbinas.

Foi aí que nosso herói tomou uma decisão: fazer campanha para acabar com o lixão nas proximidades do aeroporto. Só assim conseguiria tirar seus amigos da cidade. Ir morar no campo seria muito melhor e não iria sozinho.
Se algum dia um daqueles grandes aviões caísse sobre o lixão, iria ser um desastre incalculável, iriam morrer milhares de urubus e o planeta ficaria inconsolável.
Claro que eventualmente poderiam morrer alguns humanos também, mas os urubus eram muito mais importantes, além de serem em número muito maior.
Afinal, o que seriam duzentos ou trezentos humanos diante de milhares de urubus?
Resumo: conto de urubu, utilidade do urubu, perigos do urubu para aviões, malefícios dos lixões, o que é carniça para urubu

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